ASMA E RINITE

09/07/2008 23:53

 

ASMA E RINITE:

Implicações no exercício e na natação

 

Iara Nely Fiks

Médica Pneumologista

  

A asma é uma inflamação crônica dos pulmões de natureza alérgica, que se caracteriza por um aumento da reatividade das vias aéreas a determinados estímulos, causando uma limitação ao fluxo de ar. Essa alteração pode ser reversível espontaneamente ou com o uso de remédios broncodilatadores. Na maioria dos casos, a doença se manifesta na infância e ocorre uma melhora na adolescência, porém a asma pode iniciar em qualquer idade. A asma é uma doença muito comum e está aumentando no mundo todo. Quando não diagnosticada e adequadamente tratada causa um impacto negativo na qualidade de vida, principalmente na realização de esportes.

 

O quadro clínico é caracterizado por episódios repetidos de tosse, aperto no peito, chiado e falta de ar, principalmente noturnos. É necessário que exista uma predisposição genética e uma exposição ambiental aos diversos fatores desencadeantes. Os mais freqüentes são: poeira, ácaro, mofo, irritantes químicos, mudanças climáticas, infecções (gripes) e exercício físico.

 

Os nadadores são diariamente expostos a diversos fatores desencadeantes da asma. Além do exercício vigoroso, as condições de treinamento, piscinas tratadas com cloro, ambientes úmidos e alterações freqüentes de temperatura corporal, infecções respiratórias e o “estresse” habitual de um atleta, contribuem para a agressão continuada das vias respiratórias.

 

Asma, rinite alérgica, sinusite e pólipos nasais são doenças que andam de mão dadas. Os fatores desencadeantes são semelhantes e muitas vezes uma segue a outra, portanto, ambas devem ser controladas. Os sintomas mais comuns são coriza, coceira no nariz, espirros, obstrução nasal e ronco, sensação de secreção atrás da garganta, tosse crônica e muitas vezes febre, dor na face e catarro purulento. Embora não cause falta de ar, os sintomas de rinite e sinusite são muito desconfortáveis, especialmente para um nadador.

 

As formas graves da asma são facilmente reconhecidas, porém as formas leves e moderadas e particularmente a asma por exercício nem sempre são reconhecidas. Mesmo quando diagnosticada, a maioria dos asmáticos não atinge o controle ideal da doença. Mitos em relação ao uso dos medicamentos, má orientação médica e principalmente falta de informação correta leva o asmático a uma vida marginal.

 

A natação sempre foi “receitada” como tratamento para a asma e a bronquite, porém os estudos falharam em demonstrar a melhora da função pulmonar ou a retirada dos medicamentos após um treinamento. O resultado: muitos nadadores estão nadando com a função pulmonar abaixo do normal, outros abandonam por relatar crises durante e após os exercícios e outros entram espontaneamente no período de remissão da doença.

 

Se a incidência na população geral gira em torno de 21%, provavelmente entre os nadadores esse número deve ser bem maior.

Os professores de educação física e técnicos ainda são pouco treinados para o diagnóstico e abordagem da asma. Muitos ainda proíbem o uso das bombinhas. Alguns atribuem a baixa performance a pouco empenho e aumentam a carga de exercício, o que aumenta o broncoespasmo e os sintomas, fechando o ciclo vicioso. 

Chamamos de asma induzida por exercício (AIE) o aumento transitório da resistência das vias aéreas que ocorre após exercício vigoroso não somente em uma grande parcela de asmáticos, mas também em alguns indivíduos sem história prévia de asma

 

Muito importante é a presença de AIE em aproximadamente 10% dos indivíduos sem história de asma, podendo elevar-se até 35% em populações jovens e atletas de alto rendimento.

 

A AIE varia de acordo com o tipo e intensidade de exercício, assim como com a temperatura e umidade do ambiente, não existindo um consenso na literatura de qual seria o melhor exercício nem o ambiente ideal.

A sensação de falta de ar aos esforços físicos é considerada normal para a maioria das pessoas que não estão treinadas. Em atletas amadores ou profissionais, essa falta de ar é logo explicada pela falta de treinamento, o que leva a um aumento da carga de trabalho. Quando esse caminho não se mostra eficaz, logo se investigam doenças cardíacas. Poucas vezes a asma é lembrada como causa de baixo rendimento esportivo.

A asma induzida pelo esforço é reconhecida quando tosse, chiado, aperto no peito e falta de ar ocorrem durante ou após a realização de esforço físico. Geralmente piora nos dias frios e secos.

 

“Será que eu tenho asma induzida por esforço?”

A maioria dos atletas passa mais tempo com seus professores e técnicos esportivos do que em companhia dos seus pais. Portanto, devemos dividir com esses profissionais a responsabilidade de diagnosticar a asma induzida por esforço.

 

Nos atletas de alto rendimento, o broncoespasmo induzido por esforço é mais comum, mesmo em não asmáticos. Quando não diagnosticado e tratado pode contribuir para a perda de performance durante os treinos e maus resultados.

 


Quando existe uma suspeita clínica, ela deve ser confirmada através de testes de função pulmonar. A espirometria é um exame bastante simples, que mede a velocidade que o ar é expirado dos pulmões. Existem valores normais já pré-determinados, que levam em consideração o sexo, a idade e a altura. Portanto, não adianta comparar os exames entre duas pessoas e sim o valor obtido frente ao valor esperado. São realizadas pelo menos três manobras expiratórias para certificar-se da reprodução do resultado. 

Após a manobra em repouso, pode ser realizada a prova com broncodilatadores. Um aumento de 12% na função pulmonar após o uso do medicamento é uma prova positiva, demonstrando a hiper reatividade das vias aéreas.

 Atletas de alto rendimento devem ser submetidos a espirometria e teste de provocação, mesmo sem histórico prévio de asma, pois o diagnóstico e prevenção desta condição podem contribuir para a melhora dos resultados. Nestes casos, uma segunda avaliação é necessária para conferir o grau de proteção do broncoespasmo atingido pelas medidas adotadas.

 O tratamento medicamentoso da asma em atletas de alto rendimento não só é permitido como totalmente recomendado. O uso de medicamentos para asma em atletas normais não melhora a performance. Por outro lado, sabe-se que atletas asmáticos não controlados estão competindo em desvantagem.

 

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Dra IARA NELY FIKS

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