NATAÇÃO É UM ESPORTE PARA ADULTOS

A frase não é minha, é do amigo e companheiro Daniel Wolokita, há quase dez anos. Natação é um esporte para atleta adulto, sendo que nosso problema (técnicos) é de que quando eles estão adultos já não estão mais nadando.

Lembro muito bem do Wolokita falando isso e cada dia a realidade mostra que ele estava mais do que correto. Nosso esporte requer uma preparação dura, uma abnegação fantástica, mas acima de tudo, um equilíbrio e maturidade que nem sempre conseguimos encontrar. O nosso esporte está mudando e não são só os ganhos e benefícios com a tecnologia, mas acima de tudo com as oportunidades. Quem lembra da campanha de Coaracy Nunes para a presidência da CBDA, ou melhor CBN, há 20 anos? Um dos principais pontos de sua campanha seria de fazer a seleção brasileira participar de mais competições internacionais. Na época, o que nossos principais nadadores faziam era Sul-Americano e Copa Latina, e só. Hoje em dia, temos Mundial de Curta, Copa do Mundo, Multinations, Pan Pacífico, e por aí vai.  

 

Sei que ainda existe muito atleta reclamando de falta de apoio e dificuldades, mas ninguém imagina o que as gerações anteriores passaram. Estamos num momento dourado para todos estes atletas que acima de tudo precisam tirar proveito disso crescendo e dando ao nosso país melhores resultados.

 

A idade média do atleta de alto nível também mudou. E muito para cima. Não só no Brasil, mas em todo mundo. As oportunidades, a entrada dos patrocínios e aí a maior visibilidade na televisão, deram a oportunidade para os atletas extenderem as suas carreiras. Quem lembra do Troféu Brasil de 1987 no Julio Delamare com a primeira transmissão ao vivo das provas pela televisão? Tivemos de mudar os horários das finais daquele dia para passarmos ao vivo um esporte que jamais havia aparecido na telinha. Hoje em dia, transmissão de Finkel, Troféu Brasil, até Torneio de Mococa virou obrigação para o SporTV, sem falar nos inúmeros eventos internacionais que quando não passa virou motivo de protesto.

Os Jogos Olímpicos de Beijing estão bem aí e vai ser difícil ver nadadores jovens brilhar por lá. A idade média dos medalhistas e finalistas aumentou e muito. Hoje em dia, as oportunidades tem mantido nossos atletas por mais tempo no esporte e o melhor disso é que mais estabelecidos acabam alcançando melhores resultados.

Isto não é um fenômeno da natação. Lembro dos jogadores de futebol da década de 70 quando chegavam aos 30 já estavam velhos. O “envelhecimento” dos atletas é geral. Porque as oportunidades também são.

 

É por conta disso que a FINA estuda em aumentar a idade do Mundial Júnior. Aliás, uma competição fantástica e que, para nosso orgulho, foi idéia de nosso presidente Coaracy Nunes. O Mundial Júnior aumentou a idade de 2006 para 2008 e a tendência é de que aumente novamente para 2011. A FINA estuda levar os homens até os 20 anos nesta categoria e as mulheres até os 18. A idéia é baseada nos fatos que indicam a dificuldade de novos valores se destacarem nas competições absolutas. O projeto é interessante e faz sentido.

 

No Brasil, também precisamos “envelhecer” nossos atletas. Temos de oferecer melhores condições, competições mais atrativas, busca de patrocínios e oportunidades. Da mesma forma, os técnicos são fundamentais neste processo e todas melhorias devem ser extendidas aos verdadeiros profissionais do nosso esporte.

 

É muito bom ter um talento despontado todo dia nas nossas categorias inferiores, mas se não formos capazes de levá-los até a plenitude vamos continuar vivendo de talentos esporádicos. Os resultados serão muito mais determinantes quando forem produto de programas pré-estabelecidos e fundamentados. Ainda somos criança nisso tudo, quase recém nascidos.

 

Alex A. Pussieldi, editor chefe da Best Swimming Inc.