Mudanças e Observações Técnicas de Beijing 2008

16/10/2008 14:45

 

MUDANÇAS E OBSERVAÇÕES TÉCNICAS DE BEIJING 2008

Alex Pussieldi
Publicado em 13/09/2008

 

 

 

25 recordes mundiais, 66 recordes olímpicos e uma cacetada de recordes continentais e nacionais. A natação dos Jogos Olímpicos de Beijing não poderia ter sido melhor. Não é puxar “brasa para a nossa sardinha”, mas a natação foi “o esporte” dos Jogos Olímpicos. Assim como Michael Phelps foi “o atleta” destes Jogos.
Uma competição como esta dá motivação para qualquer profissional ligado a nossa modalidade. Tenho certeza de que os nadadores que assistiram os Jogos voltaram para os treinos mais animados. Os treinadores entusiasmados com o que viram devem estar cheios de planos e sonhos para serem executados com suas equipes.
Também foi assim que a Best Swimming viu e voltou dos Jogos Olímpicos. Neste relatório, enumeramos algumas características técnicas observadas nas provas de natação e que fazem parte de uma visão de um treinador em busca de conhecimento, observando e anotando tudo que vê e assiste. Confira e faça também a sua lista de “novidades técnicas” vistas em Beijing:
 
1)      SAÍDA É DE ATLETISMO
A proporção é cada vez maior. Praticamente não há atletas saindo com os pés na frente. São poucos, mas muito poucos mesmo que ainda executam a saída de agarre. Continuar com esta técnica me parece parar no tempo. Principalmente para os treinadores das categorias menores, o procedimento de ensino deve ser voltado para a saída de atletismo.
 
2)      MAIÔ E SUNGA NÃO EXISTEM MAIS
Estes definitivamente acabaram. A nível de competição internacional, mulheres de maiô e homens de sunga não existe mais. Os bodysuits cresceram muito na preferência dos atletas em Beijing. Ainda existem atletas que gostam de bermuda e calça, ou até mesmo os chamados “macaquinhos” que vão até o joelho, mas a proporção do aumento de bodysuits foi realmente impressionante.
 3)      NADAR 50 LIVRE SEM RESPIRAR NÃO É MAIS EXCEÇÃO
Mas não é mesmo. Exceção é nadar os 50 livre respirando a cada três braçadas, e bilateral, como fez Dara Torres. Muitos atletas, inclusive César Cielo do Brasil, fizeram a prova dos 50 livre sem excecutar qualquer respiração. O aumento do trabalho de hipoxia deve ter aumentado nos treinamentos e principalmente a capacidade de manter um bom padrão de nado sem ter a técnica afetada pela deficiência de oxigênio. A qualidade da prova de Cielo foi impressionante. Ele não diminui em nada nem o ritmo nem o tamanho das suas braçadas durante toda a prova dos 50 livre executada em perfeita hipoxia.
 
4)      NATAÇÃO É NA LINHA D’ÁGUA
Não é novidade, mas virou regra. Quem quiser ter sucesso em natação deve nadar na linha d’água. Nadadores de borboleta que sobem ou descem demais, nadadores de peito que cometem o mesmo erro, nadadores de costas ou crawl que tem os quadris muito baixos na água estão condenados a ficar para trás. O alinhamento com a água é uma das características do nado moderno.
 
5)      RECUPERAÇÃO DE PEITO ACELERADA
Uma característica dos principais nadadores de peito. A aceleração de recuperação nas suas braçadas tem sido determinantes. O retorno dos braços a frente combinados com a projeção de seus corpos dá uma nova perspectiva para o nado, que ganhou mais aceleração.
 
6)      QUEM NÃO É BOM DE NADO SUBMERSO FICA PARA TRÁS
Outra técnica que já é relativamente antiga, porém continua determinando muitos resultados de grande maioria das provas. O trabalho submerso nas saídas e viradas é uma evolução da natação moderna. Até mesmo atletas estão mudando de provas para usar e abusar da técnica. Caso específico do húngaro Laszlo Cseh vice campeão olímpico dos 200 borboleta executando uma pernada submersa brutal nas viradas.
 
7)      FUNDISTAS SÓ NADAM EM PERNADAS DE 6 TEMPOS
Esta observação é mentirosa, mas que todos os finalistas dos 1500 livre masculino e todas as finalistas dos 800 livre feminino nadaram em pernada de seis tempos, isto é verdade. Ainda tivemos nadadores (1500) e nadadoras (800) fazendo pernada de dois (poucos) e quatro (mais freqüente) tempos, mas nenhum deles chegou a final. O trabalho de pernada nos treinamentos deixou de ser exclusividade do trabalho dos velocistas e meio fundistas, muito tempo atrás.
 
8)      400 LIVRE – A PROVA DO NEGATIVO
Tanto no masculino como no feminino. Os 400 livre foram executados de forma negativa, não só pelo vencedor e vencedora das provas, mas por grande maioria dos finalistas de ambos os sexos. É uma tendência mundial e serve como base para os treinadores ajustarem seus programas de trabalho.
 
9)      O CORPO RESPONDE DA FORMA COMO PREPARARMOS ELE
As finais pela manhã não afetaram em nada a qualidade da competição. Atletas e seleções do mundo inteiro modificaram seus esquemas de treinamento, seus horários de competições, suas rotinas diárias para ajustar o corpo a alcançar a melhor performance possível nas finais “estreantes” de Beijing. Deu tudo certo. Fisiologicamnete existem estudos que comprovaram a deficiência de performance nas atividades esportivas matutinas, porém os nadadores em Beijing suplantaram este tese com resultados incrivelmente fortes e expressivos. Com treinamento e planejamento, tudo é possível.