Cielo, Um exemplo de Determinação

27/05/2008 09:53

 

CIELO, UM MOLEQUE INTELIGENTE

Plínio Rocha
Publicado em 23/02/2008
Fonte: Best Swimming - LANCE!

 

 

 

(Retirado de   https://www.bestswimming.com.br/conteudo.php?id=8024 )

 

Conheci Cesar Cielo quando ele chegou ao Pinheiros. À época, um dos
técnicos da equipe, meu amigo até hoje, me ligou. Disse o seguinte: "Tem
um menino que vai começar a nadar aqui, Cesar, que é bom. Velocista,
tipo magro, cara de quem sabe o que quer da vida. Vai dar caldo, acho
que vale matéria." E lá fui eu, bloco de anotações na mão e idéias na
cabeça, entrevistar o fedelho.

 (inicio de sua carreira)
Fui apresentado a Cielo e a Guilherme Guido, que também havia chegado ao
clube para ser o novo costista da equipe. "Prazer, meu nome é Plínio,
sou repórter do LANCE! e ouvi dizer que vocês dois são o futuro da
natação brasileira. São mesmo?", perguntei.

 
E o papo aconteceu de maneira descontraída. Os dois eram tímidos, talvez
fosse aquela a primeira entrevista de suas vidas para um jornal grande,
de destaque. E voltei para a redação certo de que tinha uma boa
história, que de fato foi publicada, com foto dos dois, textos, fichas
de apresentação, como manda o figurino.
 
Lá estava tudo sobre eles. Dizia que Cielo bateu à porta do Pinheiros
pedindo uma chance de nadar ao lado de seu ídolo, Gustavo Borges, que
estava dando as últimas braçadas de sua gloriosa carreira. E os dois, de
fato, nadaram um tempo juntos, chegaram a viajar, teve até o episódio em
que o veterano deu ao garoto uma calça que foi usada no Mundial de Curta
de Indianápolis, em 2004. Com ela ganhou medalha, e ambas estão hoje
enquadradas na parede da casa de Cielo em Santa Bárbara d´Oeste, a
medalha e a calça. Fez bem, porque esse tipo de coisa fica para sempre,
mesmo, nem tanto a conquista, mas o amuleto sagrado, o significado da
coisa, que é dele e de mais ninguém.
 

O tempo passou. Borges parou depois da Olimpíada de Atenas, foi um dia
comovente. Estava presente no dia da sua última braçada, não vou
esquecer disso. A homenagem, o ato simbólico dos amigos, que o impediram
de bater na borda. Ficou, assim, a impressão de que a coisa não havia
acabado, de fato, que a braçada derradeira ainda estaria por vir. Foi
bonito.
 
Mas é de Cielo que eu falava, e Cielo seguiu sua carreira. Como o ídolo,
abdicou do conforto de sua casa e foi morar, estudar e treinar nos
Estados Unidos. Está em Auburn, uma cidade chata que só ela, onde não
tem nada para fazer, daquelas que fazem com que um sujeito acostumado às
grandes metrópoles surte em poucos meses. Mas Cielo é filho do interior
paulista, soube administrar isso e colocou na cabeça que se era assim
que tinha de ser, assim seria.
 
Mais ou menos como fez Borges quando resolveu ir para Michigan, quando
acordava às 4h e pouco da manhã e colocava o nariz para fora de casa com
uma temperatura na casa dos 10 graus negativos. O frio era danado, mas
se os caras bons do mundo estavam treinando, era isso que ele tinha de
fazer se quisesse ter uma oportunidade de batê-los, pelo menos.
 
Não demorou e as comparações entre os dois surgiram. Cielo cansou de
responder às mesmas perguntas. "Você será o novo Gustavo Borges?",
questionavam os jornalistas, o tempo todo, sem pensar muito bem no que
aquilo queria dizer. E ele dizia o tempo todo que nunca ninguém será
como Gustavo Borges, porque cada um é cada um, e ele era Cesar Cielo, e
Cesar Cielo seria a vida inteira. Moleque inteligente, esse aí, pensava eu.
 
Pois hoje ele é mais Cielo do que nunca. É recordista sul-americano dos
50m e 100m livre, ganhou quatro medalhas no Pan-Americano do Rio, é o
melhor velocista da história da natação americana, disputará uma
Olimpíada com chances reais de subir ao pódio. Sempre lembrando que
Gustavo Borges, aquele cara que fez com que tudo tenha começado, tem
quatro medalhas olímpicas, duas de prata, duas de bronze. Marcas que não
devem servir de comparação para nada. Mas que são importantes porque
criaram um campeão. O próprio Borges? Sem dúvidas, mas criaram Cielo,
também. E quem sabe ele não seja, a partir de agora, a inspiração de
muitos outros garotos, que um dia baterão à porta de seu clube pedindo
por uma oportunidade de treinar ao seu lado.

 E eu parei para pensar agora sobre aquele dia em que conheci Cielo.
Parei para pensar na tal pergunta que fiz a ele, sobre se ele seria o
futuro da natação brasileira. Hoje a resposta parece óbvia. E naquela
época, talvez, também fosse. Eu que não percebi. Estava nos olhos dele o
tempo todo, e o sujeito pode crescer e ficar mais velho, mas o olhar
continua o mesmo. Jornalista faz umas perguntas idiotas, de vez em
quando. Cielo deve ter pensado isso de mim quando nos conhecemos.
Moleque inteligente, esse aí.
 
Plínio Rocha é editor do LANCE!, tem um blog de natação no LANCENET!
e uma coluna semanal na TV LANCE

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